Por Edmilson Siqueira
Não entendi o motivo dessa omissão e, numa das publicações até botei um comentário sobre o disco, um LP gravado em 1974, com quinze músicas que, pela sua qualidade e importância, não pode ficar de fora sempre que se escreva um texto, por menor que seja, sobre o compositor paraense.
Billy Blanco nasceu em Belém, estudou Engenharia por lá, depois Arquitetura no Mackenzie, em São Paulo, mas acabou se formando na Faculdade de Arquitetura e Belas Artes do Rio. Isso é o que se sabe sobre o arquiteto Willian Blanco Abrunhosa Trindade. Sobre o músico e sua vasta obra (cerca de 500 músicas, das quais 300 gravadas) sabe-se muito mais. Foi parceiro de Jobim, Baden e até de João Gilberto entre outros.
Mas é sobre a Sinfonia Popular Paulistana que se trata esse artigo.
Ela foi escrita a partir de um desafio de sua mulher, Ruth Egydio de Souza Arranha (depois y Blanco Trindade), de família tradicionalíssima em São Paulo que lhe disse que ele só fazia música para o Rio de Janeiro. Depois dessa "reclamação", foram dez anos construindo a sinfonia que veio a ser gravada em 1974.
Depois dos dez anos compondo as músicas e as letras, Billy conseguiu reunir um time de primeira categoria da música brasileira para gravar o disco. Pra começar, a produção foi de Aloysio de Oliveira que, na contracapa do disco revela: "Gravar a Paulistana não foi uma tarefa fácil. Basta que vocês imaginem que foram necessárias várias semanas de um planejamento perfeito entre Bily Blanco, Chiquinho de Moraes e eu". O Chiquinho citado é o grande maestro e arranjador, responsável por dezenas e discos da nata da MPB.
As várias semanas de planejamento abordavam a gravação de vários cantores - alguns em São Paulo outros no Rio - a contratação de um coral e a inclusão na agenda da famosa orquestra de Chiquinho, dos dias de gravação. A orquestra viva gravando outros discos, tocando em programas de tevê e em bailes pelo Brasil afora.
É o próprio Aloysio quem contra como foi a coisa: "A coordenação entre orquestra e cantores do Rio e de São Paulo, a gravação de diversas fases da orquestras, enfim, uma infinidade de pequenos problemas que aos poucos foram sendo resolvidos".
O resultado é precioso. Billy Blanco, num texto quase poético, tenta explicar os motivos, além da "bronca “da patroa, para fazer a sinfonia: "Por que São Paulo? Porque ela existe dentro de mim desde o instante em que abrigou, há 30 anos, mais um nortista, um paraense buscando régua, tendo viola e que sabia sobre as montanhas somente aquilo que aprendera na geografia de sua escola; porque Anchieta merece tanto, porque Bartira merece um canto pelas famílias dela geradas..."
O disco abre com
"Louvação a Anchieta", na voz de Pery Ribeiro, seguida de
"Bartira", com Claudete Soares, completando, logo de cara, a
homenagem citada na entrevista ao que ele considera os dois grandes alicerces
da cidade.
As chuvas, marcantes em determinadas estações provocadas pelas monções, e que orientavam os bandeirantes na hora da partida da capital paulista, entram no disco com o nome de "Monções". É a terceira faixa na voz segura de Pery Ribeiro.
O coro reunido no disco trabalha na quarta faixa -"Tema de São Paulo" - acabou cantando muitos anos na Rádio Jovem Pan, em seu Jornal da Manhã, mas não foi essa música que mais fez sucesso. Foi outra e por causa do mesmo jornal radiofônico.
Uma das maiores cantoras que o Brasil já teve, Elza Soares, entra na quinta faixa com "Capital do Tempo". É um samba meio estilizado, moderno pra época, que reverencia a mistura de povos na capital paulista.
A sexta faixa teve o solo vocal de Nadinho da Ilha e evoca uma das grandes preocupações do paulistano, talvez a maior: "O Dinheiro" é o nome da música.
Pery Ribeiro volta com um retrato da noite paulistana, citando várias casas noturnas - Catedral, Beco, Teleco-Teco, Ton Ton, La Licorne - que foram famosas à época.
A sinfonia prossegue com Claudete Soares com "O Céu de São Paulo", que canta o cotidiano apressado e o nublado céu da cidade, fazendo referência novamente ao início do tema já cantado: "São Paulo que amanhece trabalhando..."
A frase é a dica para a música seguinte que, durante 43 anos (sim, 43 anos!) foi o tema de abertura do Jornal da Manhã da Jovem Pan, popularizando-a de uma forma que o próprio compositor jamais imaginou. "Amanhecendo" é obra-prima que se emenda magnificamente com que virou quase um hino a definir São Paulo que é "O Tempo e a Hora". Quem não se lembra do "Vãobora, vãobora / Olha a hora, vãobora..." com Claudete, Pery Ribeiro e Coro?
O grande Miltinho, um incomparável cantor, se incumbe de cantar "Viva o Camelô", um samba que segue a linha dos regionais, com acompanhamento de violão, violão de 7 cordas, cavaquinho e pandeiro.
As práticas esportivas são o tema da próxima faixa, com Elza Soares louvando Pelé, Rivelino, Ademir (da Guia), Eder Jofre, Fittipaldi e a São Silvestre, tudo muito bem casado num samba bossa nova.
Claro que a juventude que tomava ruas famosas de São Paulo não poderia ficar de fora. "São Paulo Jovem" e "Rua Augusta" se incumbem de registar a moçada, com temas que se aproximam do pop, cantados por Pery Ribeiro e pelo coro.
O disco se encerra com "Grande São Paulo", com Pery Ribeiro e Coro, uma ode a todos os principais bairros desse conglomerado que se orgulha de ser o maior da América do Sul e um dos maiores do mundo.
Enfim, um disco essencial na carreira desse grande compositor brasileiro Billy Blanco.
O CD deve estar por aí ainda nos bons sites do ramo e pode ser ouvido na íntegra no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=BnDMmWyoZ1I&list=PL9SntIdCXKwh9gzwsqYOe6yQrf9s950Rw
As chuvas, marcantes em determinadas estações provocadas pelas monções, e que orientavam os bandeirantes na hora da partida da capital paulista, entram no disco com o nome de "Monções". É a terceira faixa na voz segura de Pery Ribeiro.
O coro reunido no disco trabalha na quarta faixa -"Tema de São Paulo" - acabou cantando muitos anos na Rádio Jovem Pan, em seu Jornal da Manhã, mas não foi essa música que mais fez sucesso. Foi outra e por causa do mesmo jornal radiofônico.
Uma das maiores cantoras que o Brasil já teve, Elza Soares, entra na quinta faixa com "Capital do Tempo". É um samba meio estilizado, moderno pra época, que reverencia a mistura de povos na capital paulista.
A sexta faixa teve o solo vocal de Nadinho da Ilha e evoca uma das grandes preocupações do paulistano, talvez a maior: "O Dinheiro" é o nome da música.
Pery Ribeiro volta com um retrato da noite paulistana, citando várias casas noturnas - Catedral, Beco, Teleco-Teco, Ton Ton, La Licorne - que foram famosas à época.
A sinfonia prossegue com Claudete Soares com "O Céu de São Paulo", que canta o cotidiano apressado e o nublado céu da cidade, fazendo referência novamente ao início do tema já cantado: "São Paulo que amanhece trabalhando..."
A frase é a dica para a música seguinte que, durante 43 anos (sim, 43 anos!) foi o tema de abertura do Jornal da Manhã da Jovem Pan, popularizando-a de uma forma que o próprio compositor jamais imaginou. "Amanhecendo" é obra-prima que se emenda magnificamente com que virou quase um hino a definir São Paulo que é "O Tempo e a Hora". Quem não se lembra do "Vãobora, vãobora / Olha a hora, vãobora..." com Claudete, Pery Ribeiro e Coro?
O grande Miltinho, um incomparável cantor, se incumbe de cantar "Viva o Camelô", um samba que segue a linha dos regionais, com acompanhamento de violão, violão de 7 cordas, cavaquinho e pandeiro.
As práticas esportivas são o tema da próxima faixa, com Elza Soares louvando Pelé, Rivelino, Ademir (da Guia), Eder Jofre, Fittipaldi e a São Silvestre, tudo muito bem casado num samba bossa nova.
Claro que a juventude que tomava ruas famosas de São Paulo não poderia ficar de fora. "São Paulo Jovem" e "Rua Augusta" se incumbem de registar a moçada, com temas que se aproximam do pop, cantados por Pery Ribeiro e pelo coro.
O disco se encerra com "Grande São Paulo", com Pery Ribeiro e Coro, uma ode a todos os principais bairros desse conglomerado que se orgulha de ser o maior da América do Sul e um dos maiores do mundo.
Enfim, um disco essencial na carreira desse grande compositor brasileiro Billy Blanco.
O CD deve estar por aí ainda nos bons sites do ramo e pode ser ouvido na íntegra no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=BnDMmWyoZ1I&list=PL9SntIdCXKwh9gzwsqYOe6yQrf9s950Rw
Nenhum comentário:
Postar um comentário