sábado, 17 de maio de 2025

Piramboia da parafuseta

 Por Ronaldo Faria



Hora de poder tresloucar.
Será aqui o final do meu lugar?
Cheiro de unção na voz silenciosa e ciosa.
Belicosa gramatura de papel.
Sob o véu, há beijo ou fel?
Encoberta, a vértebra é mel.
Mas, ao fundo, dói pra dedéu.
Ao preço da cerveja antevejo virar pinéu.
Cobrir vício sem sevícia é só léu.
Justiça existe? Só se for chegar no rio em chiste.
Nalgum bolso os dedos se cobrem de cobres.
Neles está a magnânima fragrância.
Poucos, porém, a podem borrifar.
Vilipêndios nos compêndios.
A estátua de olhos cobertos chora sem dó.
Na faculdade o menino treme de medo.
“Será que vou dar jeito por aqui?”
Mal sabia que somos todos só ironia.
Entre tantos 171 viraria quase supremacia.
Lembrança ancha a segurar o copo que caía.
Na rede a embalar o bel prazer de Bel.
Pichações de ações e canções ultramarinas.
Nomes, sobrenomes e pronomes.
Votos, vestes e loucos revezes de vezes perdidas.
Na festa louca, até fezes no quarto escuro de fotos.
No não voltar, não há como retornar.
Mesmo que agora falte um tanto de ar.
Jaca mole, tanto se come até que se empanturra.
No reco-reco, batuca o tico sem o teco.
Como diria no passado, milorde é picardia. E que se foda!
Kriptonita no Super-Homem dos outros é refresco.
Versos no guardanapo da água furtada.
Na fruta comida, formicida do depois solitário.
Refratário, o poeta sofre com aquarela transversa.
No esquecer, o foder com o sofrer ao alvorecer.
Feito bicho da seda, falta seda para enrolar.
Na festa se atesta a testa colada no testículo.
No sertão o luar agrada até sapo que vai morrer no sal.
A ver o boi mugir, saudade do filho perdido.
Na verdade, só a vaca com as tetas de leite lembra dele.
E como é bom relembrar a lenha no fogão a crepitar.
A brincar de carro de bois em sabugos de milho.
Fugir das abelhas da África prontas para picar.
E saber e crer que em algum momento fui feliz.
No barulho da cachoeira a beijar a índia finda.
A descer a floresta e cobrir de corpo desnudo a amada.
Ser dono de si e também nada conseguir ser.
Mas, para quê serve essa vida sem amanhã?
No deletério etéreo de bolas a balangar, o criar.
No som, Caymmi diz que vai só, mas vai. Eu idem.
Afinal, no final só nós iremos saber-se-á pra aonde.
Nas sobras e sombras das luzes e dos minutos, seguiremos.
Aos amores antigos e lúdicos, meu eterno amor.
Até dedicação na lembrança do infortúnio do coração.
Lúcido ou embriagado, tragado e chinfrim, estarei aqui.
E se me sobrarem segundos sem dor, escreverei.
Escribas de nós mesmos, aprendemos a cada dia a sermos.
Nos cadernos de caligrafia sem rima, subverteremos.
Enganaremos a nós burros mesmos, a esmo.
Mas, tontice da vida, viveremos mesmo assim.
Com sangrias, entranhas múltiplas, estranhas luas.
Pororocas múltiplas nos faremos rio e enchentes.
Nas muitas gentes travestidas de nós, renasceremos em flor.
Brincaremos de ser e crer, malfadados e dados retardados.
Como dardos, seremos lançados no destino.

Nos acertos e erros, talvez possamos aprender a sambar. Senão, valeu o passo da passista que é desejo de todos nós, o roncar da cuíca perdida na bateria a desfilar, o suor da baiana velha da ala do tempo, do mestre-sala a homenagear a porta-bandeira com seu bastão a girar, do compositor repositor de história, do batuqueiro maloqueiro que não desceu porque estava dormindo a sonhar. Tudo escondido na internet.
E assim, chegado o novo dia na chegança da vida, que sinhá e sinhô fodam-se sim! Lá fora, quem sabe, surgirá o cheiro brejeiro de jasmim.

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