Por Ronaldo Faria
Noite encruada de neblina e nada. Notívaga e vaga. Vagabunda e aflita. Metade realidade, outra desdita. Parcimônia e certeza inaudita. Ao som do Tom, a sonífera escrita...
Por Ronaldo Faria
Noite encruada de neblina e nada. Notívaga e vaga. Vagabunda e aflita. Metade realidade, outra desdita. Parcimônia e certeza inaudita. Ao som do Tom, a sonífera escrita...
Por Ronaldo Faria
Eduardo Gudin, o que nos separa nesta noite quase madrugada que se enquadra entre a vida e o céu? Uma mulher, um samba, um violão, um São Paulo de esquinas e sinas, um bordel? Olhos marejados e malfadados de tanto passado e falsa mansidão, cá estamos a criar na ilusão? Entre vozes femininas, verdades e anginas, cantorias e ilusórias meninas. Poesias trancadas em porões mil, coisas que se foram e não voltam que nem pingo de cantil, cândidas verdades num corpo quase senil. Quem sabe um samba redescoberto na certeza incerta da mansidão em ardil.
Por Edmilson Siqueira
Wolfgang Muthspiel. Conhece? Quem ama o jazz deve conhecê-lo. Ele já gravou 22 discos, o último em 2020 ("Angular Blues"). Eu tenho o segundo dele e gosto muito. Pra quem não sabe, Wolfgang é um respeitado guitarrista que começou tocando violino aos seis anos e depois mudou para o violão clássico e depois para a guitarra elétrica. Ele lançou seu primeiro disco, "Timezones", aos 13 anos. Durante dois anos, excursionou com ninguém menos que Gary Burton e o guitarrista Mick Goodrich, que era um de seus professores no Berklee College of Music.
Em 1990, ele lançou o disco que estou ouvindo agora e cujo título é "The Promisse", que é uma das faixas. Para um segundo disco de um instrumentista, o time que ele reuniu é coisa de gente grande. John Patitucci, Bob Berg, Rich Beirach e Peter Erskine fazem parte do elenco reunido, sob a produção de Gary Burton. E, ainda mais, pelo fato de que, das nove músicas do disco, sete são de autoria de Wolfgang. As outras são "My Funny Valentine", de C. Rodgers e L. Hart; "The Promisse", de Gernot Wolfgang.
Depois, ele acrescenta que recebeu recomendações de amigos e grande músicos para contratar Wolfgand para sua banda. E, ao fazê-lo, descobriu que, como um guitarrista, "Wolfgang tem uma formação inusitada, o que, eu sinto, aumentou muito suas habilidades como improvisador e compositor. Criado na Áustria, na cidade de Graz, não é de estranhar que tenha começado a sua vida musical como violinista. Com o passar dos anos de estudo, Wolfgang mudou para o violão clássico e durante esse período frequentou o conservatório de Graz e tocou concertos nesse instrumento." Depois do violão clássico, Wolfgang mudou para a guitarra elétrica, decidiu ir para a América e estudou no New England Conservatory e, depois, no Berklee College. Aí o jazz já era seu estilo de vida.
Esse disco que abre os trabalhos com "T.G.", é daqueles que você começa a ouvir e não para até a última música, pois, além do próprio Wolfgang mostrando uma guitarra já madura e cheia de improvisos inspirados, tem um time dos mais competentes que não deixa a peteca cair em momento algum.
O disco pode ser ouvido na íntegra no YouTube em https://www.youtube.com/playlist?list=OLAK5uy_mXiwhB0MrzEBwlntmYpazjMHMPFXelAUE. E ainda está à venda nos bons sites do ramo.
Por Ronaldo Faria
Canções e unções mil. Num déjà vu a se esvair como luz de esmeril. Numa cadência largada sem sonoridade e cadência que se joga à lua cris. Entre paixões tardias e sombrias a se travestirem de amores vestais e letais. Como a urgência de um beijo entregue em febre à boca dos casais. Feito a demência que ultima a derradeira estrada que não acaba logo depois da curva e se turva de sangue e quase nada.
Canções traduzidas e urdidas
em dedos a correrem as teclas do piano e a harmônica que desliza nos lábios
molhados e desiguais. Entre notas e acordes, o casal acorda das poucas horas
que pode ficar junto. E junta toques, tatos e inertes flertes aos minutos a
passarem dissolutos entre as paredes do quarto. Nas tragédias a percorrerem o
vento frio que dorme lá fora, o inusitado fado que vem e vai, fátuo e findo.
Canções saídas de bocas e instrumentos vadios e vazios, soprados e tocados por esquálidos e degredados poetas desnudos. Praias mil a deflorarem corpos morenos e uterinos no verbo amar. Coisa de lugar qualquer, de homem e mulher. Como lugar que termina logo ali, à beira do mar. Na inércia da vida, a morte se traduz liquefeita num por de sol ao fim. Tardia descoberta do mundo que se joga ao calor e o cheiro de jasmim.
Por Edmilson Siqueira
Dos 15 discos de Diana Krall gravados em estúdio, tenho 13. E tenho mais dois DVDs, gravados ao vivo em Paris e ao vivo no Rio. Durante um bom tempo, cópias desses discos de estúdio estiveram no CD player do nosso carro. Zezé e eu cantávamos juntos várias das músicas. Estivemos na apresentação dela, gratuita, no Parque Villa Lobos em São Paulo. Assistimos de longe, mas foi bonito. De resto, escrevi várias croniquetas na Revista Metrópole sobre ela. Hoje em dia não tem mais CD player nos carros. Mas ainda a ouvimos, às vezes, entre as milhares de músicas que botei num pendrive.
Tudo isso pra falar que, neste momento, estou ouvindo novamente seu último disco, "This Dream Of You" e, como sempre, é ótimo. Lançado em setembro de 2020, quando ele chegou em casa, apareceu com uma capinha só de papelão, com fotos discretas, e sem aquela tradicional de plástico. À época, pensei que a moça estivesse meio decadente, mas que nada. A produção do disco é excelente, da Verve, uma das mais tradicionais gravadoras de jazz dos EUA e Diana está cantando melhor que nunca. Sua voz está mais intimista, mais soft e mais segura até.
Mais um clássico, acompanhado apenas pelo piano de Diana, o contrabaixo e a guitarra de, faz sua voz soar soberana em "Autumn in New York", mantendo o clima intimista de todo o disco.
"Almost Like Being In Love" (Alan Lerne e Frederick Loewe) inaugura a sessão de faixas mais ritmadas do disco. Aos três instrumentos da música anterior, acrescenta-se aqui uma bateria discreta, marcando as divisões apenas na baqueta com vassourinha.
A faixa seguinte é com Diana cantando, mas quem se incumbe do único acompanhamento, um piano, não é ela, o que é raro. A incumbência fica com Alan Broadbent. A música é "More Than You Know, de Edwar Eliscu, Billy Rose e Vincent Youmans.
De volta ao piano, e com um conjunto que inclui até um violino country, Dina canta "Just You, Just Me" (Jesse Greer e Raymond Klages), a faixa mais "apressada" do disco, onde o improviso do violino country se sobressai.
Voltando à calma das baladas americanas, outro clássico do jazz, "There's No You" (Harold Hopper e Thomas Adaur) nos é apresentado, também só com piano, contrabaixo e guitarra.
A música que dá título ao disco, "This Dream Of You", como muitos já devem saber, é de ninguém menos que Bob Dylan. E mostra como as músicas do ganhador do Nobel de Literatura podem ficar muito mais bonitas quando a voz que as canta é de uma excelente cantora.
"I Wished On The Moon" (Dorothy Parker e Ralph Rainger) é a faixa seguinte, acompanhada apenas pelo piano de Diana e pelo contrabaixo de John Clayton Jr. É outra música mais ritmada, onde o baixo tem papel fundamental.
A lista de clássicos reaparece nas duas últimas faixas do disco. O primeiro é "How Deep Is The Ocean" (Irving Berlin), para a qual Diana recrutou contrabaixo, bateria, guitarra e violino, além do seu piano, claro. O outro clássico, que encerra o disco, é a mais que famosa "Singin In The Rain" (Arthur Freed e Nacio Herb Brown) tema do filme do mesmo nome, eternizada por Genny Kelly naquela dança na chuva que até hoje é muito assistida nos youtubes da vida.
Trata-se de mais um ótimo disco de Diana Krall, e o julgamento não é só meu, pois ele foi assim saudado pela crítica especializada quando do seu lançamento. E, além de poder ser comprado nos bons sites do ramo, pode ser ouvido na íntegra o YouTube em https://www.youtube.com/playlist?list=PL77rJfJljZDDAMxLMQh69ChIzBVeBWZ8m .
Por Ronaldo Faria
Nas vozes femininas, o maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim. Na penumbra da tarde que já terminou, uma tardia saudade que se joga à espera da malfadada madrugada. Em desejos, o poeta afaga a sua mulher e eterna enamorada.
Entre um segundo ou outro, num benfazejo conto desencontrado e torto, as notas se vestem de sons e recobrem o
corpo cansado de sonhar. Na cena, um lugar em deletérios, um mar a bater à
morte mais linda da areia que o devora sob a lua que a tudo vê.
Daqui, a rever promessas sórdidas e mórbidas, a se prostrar entre teclas e réstias, o poeta profetiza o tempo que ainda não se deu. Mas, ao som do Tom, tudo se perde amarelo e liquefeito em púrpuros gases. Acima, o mundo se entrega em frases.
Por Edmilson Siqueira
A próxima hora de prazer musical, dentro da coleção "A Jazz Hour With" será com Count Basie e seu "Basie Boogie".
Exceto durante um curto período nos anos de 1950, quando a economia do pós-guerra necessitou de alguns sacrifícios e Count Basie viajou com um septeto, o resto de sua vida foi à frente de uma orquestra com, no mínimo, 15 integrantes. E essa orquestra foi considerada uma das melhores do mundo, ao lado das de Duke Ellington e Woody Herman. Tão boa e com tantas e ótimas gravações, que a coleção dedicou a ela dois volumes. Hoje, vamos abordar o primeiro.
Como se vê, a formação priorizava os metais, mas, percebe-se nas gravações, não desprezava a sessão rítmica e muito menos os destaques que o contrabaixo exige. E Count Basie foi líder do grupo por quase 50 anos, criando inovações como o uso de dois saxofonistas "split", enfatizando a seção de ritmo, tocando com uma grande banda, usando arranjadores para ampliar seu som e entre outras. Nesse meio século, muitos músicos proeminentes trabalharam sob sua direção, incluindo os saxofonistas Lester Young e Herschel Evans, o guitarrista Freddie Green, os trompetistas Buck Clayton e Harry Edison, e os cantores Jimmy Rushing, Helen Humes, Thelma Carpenter e Joe Williams.
A seleção de músicas desse "Basie Boogie" é das mais agitadas. Pode-se, tranquilamente, afastar o sofá e improvisar uma sessão de dança por todos os 63 minutos e 25 segundos do disco. O disco foi gravado na Europa e o ano não é muito preciso. Pode ter sido em duas excursões ao continente, em 1958 e 1959, segundo informação que consta no encarte.
Trata-se, enfim, de um disco que comprova a qualidade das orquestras de jazz que se formaram nos Estados Unidos a partir dos anos 1930 e dali ganharam o mundo, sendo até hoje referências quando se trata de uma organização musical construída para distribuir prazer a todos.
O disco pode ser ouvido na íntegra no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=OOApyW-0iuI&list=OLAK5uy_m6VAgzflVGMGHh6G0RooeWyPz9vta1uBY e também pode ser comprado nos bons sites do ramo.
Por Ronaldo Faria - Você só pode estar de sacanagem querendo que eu vá ao enterro da Jacinta. Sinto muito, mas eu é que não vou! - Mas, C...