domingo, 17 de agosto de 2025
Uma coletânea de Chet Baker*
sexta-feira, 15 de agosto de 2025
Papeando no papo
Por Ronaldo Faria
quarta-feira, 13 de agosto de 2025
Com Bibi Ferreira à espera de parar
A pergunta de Augusto, na sua angústia e pérfida existência, quase fica sem resposta na bosta que é o silêncio dos bêbados da vida infame que surge feito chama na flegma da analfabeta sentença que os tempos da inteligência artificial chamariam de reconhecimento do despreparo da língua pátria. Mas, apátrida de si mesmo no esmero fútil e findo de nada saber, como culpar o poeta que se arremessa ao descalabro de apenas tentar escrever?
No boa noite que nada diz além do fim do dia infausto e incrédulo de um dia ter passado sem nada dizer, a certeza da parodia de ceux qui se mentent à eux-mêmes juste pour croire qu’ils peuvent être un être flottant. No som que ecoa ao tempo, palavras vão a sumir ao vento... Amanhã, quem saberá, um novo amor poderá florir na terra cansada de pouco cerzir estórias de amor e findar sempre em si.
terça-feira, 12 de agosto de 2025
O samba e o balanço de Miltinho
segunda-feira, 11 de agosto de 2025
Outra vez, a mercês, com a Cambada Mineira
Na brincadeira de festa junina, dessa que se gesta no coração à espera de alguém para dividir, José e Maria, ou será Maria e José, pulam a fogueira metafísica que separa corpos e paixões. Une frágeis vidas e velhices que chegam e se aconchegam nos anos que ficaram para trás. No olhar para o lado, a descoberta de que cabem mais duas garrafas de cerveja. A descoberta da matemática espacial de quem é de Humanas. Mas, agora, algoritmo de lembranças do tempo em que as donzelas eram muito mais do que meninas, voltam cheiros, sons, sabores, amores, gestuais de toques nas partes mais íntimas que se entregavam nos luares gerais.
Na inútil loucura que um dia irá parar em luzes ou lembranças diuturnas que de algo tenham valido, segue o poeta, profeta de sua própria insanidade na letargia. A futura orgia fica para quando o destino juntar renúncias, prenúncios mil ou calafrios de quem sua pingos de calor nas madrugadas frias. Nas montanhas tacanhas que teimam em não se dobrar ao destino que percorre o desatino do luar, passos passam no lumiar que a saudade traz como alvorecer. No descrente e ausente gerar de amores e corações à espera de se aninharem num galho qualquer, estão o homem e a mulher. Colados de perto no mapa do mundo, múltiplos e raros, talvez saudosos das ressacas do dia de depois, são apenas uma pena que não precisa de tinteiro para escrever.
No quadrado mágico e atávico que a lucidez desfaz e dá, saudade e insanidade se dobram e se dão. E reverberam longínquas e inúteis lembranças, andanças e críveis nuances que brotam a cada aborto que corre do rio para algum mar. E minutos, segundos, milésimos e o que mais tiver de ser, passam retóricos e meteóricos, apócrifos ao tempo que o próprio tempo se dá em desvão. No disforme tocar da boca no copo que serve de servidão à poesia que quer surgir, versos se fazem emergir. Quem sabe, em algum lugar desse mundão de um Deus infiel, não surja outro candidato a poeta a copiar para si as loucuras do escriba que aqui nos relata e faz. Afinal, se o peixe do almoço teima em ainda chegar na garganta, quem sabe uma infanta a querer seu príncipe encantado não se faça de fugitiva e companheira do fim de uma trama no drama, sem transa a rolar. Senão, como diz a Cambada Mineira, é demais... O que tiver de ser já me apraz.
Na brincadeira de festa junina, dessa que se gesta no coração à espera de alguém para dividir, José e Maria, ou será Maria e José, pulam a fogueira metafísica que separa corpos e paixões. Une frágeis vidas...
sábado, 9 de agosto de 2025
Acasalado no passado
Mais um gole tragado e outro lábio embriagado a se tornar um domar e tomar de emoções, unções, certidões de bem-querer, plácidas e lívidas ausências amiúde ter que esquecer. Nas carícias e sevícias tresloucadas sem chegar e se aconchegar na cama desforrada de malícia, os dois se tocam, riem, falam besteiras que apenas aqueles que são jovens e apaixonados sabem dizer. Falam de um futuro nunca soturno e repetem que o importante é estar ao lado, colados feito cola feita de arroz, a trocarem mil juras de amor eterno e, até quem sabe, quiçá, verem a prole parida e futura a correr nas ruas sem amanhecer. No bar o garçom pergunta se pode repetir as doses. “Claro, com certeza, por favor, até fechar o lugar se faça afim”. Longe dos bairros onde o tintilar de moedas apregoa a opulência que qualquer flatulência faz ficar, o casal viaja seus minutos rotundos e noturnos de um simplório amor.
Logo o bar irá descerrar sua porta que dá à avenida aonde fuscas e kombis, opalas e brasílias dividem o espaço com transeuntes travestidos de gente e ônibus cheios de cansados e naufragados seres que esperam ao menos o derradeiro louvor. Na estação ferroviária, logo ali defronte, as últimas composições despejam corpos que, insones, se preparam para logo voltar a transitar entre o destino e o fim escondido num paredão que chamam de descanso final, no fundão do campo santo que ninguém quer se enterrar. Mas, absorto na sorte de quem um dia pôde se amar, o casal enternecido troca olhares sobre a vela que queima cúmplice da saudade futura, noturna, que talvez um só ainda queira ou consiga lembrar.
quinta-feira, 7 de agosto de 2025
Dois estradeiros
-- Zé Militão, tem muita ruma ainda procê tomar?
-- Como, Bastião da Crisma? Se ainda vou engolir muito pó na estrada?
-- Pode ser, pode ser...
-- Falta ainda umas três vilas pra rodear, mas no meu destino vou chegar.
-- Assim espero, porque esperança muita pode cegar.
-- Eu sei. Sei até demais, mas pra quem vive de crer não tem mais o que fazer.
Os amigos, nascidos numa igual esteira de casa de pau a pique, com as mães a cortarem em canivete o cordão de umbilical simetria, seguiam seus destinos feito meninos que correm entre as cinzas da roça queimada e calcinada para voltar a dar vida. Vez ou outra bebiam juntos uma pinga que o alambique do fazendeiro da região lhes deixava sorver. Senão, se engajavam nas coxas das meninas que respiravam o cheiro de querosene dos lampiões cobertos de plástico vermelho num canto de Catolé.
Zé e Bastião, boiadeiros e estradeiros, acostumados ao tropel de cavalos cansados e encarquilhados, a seguirem a direção que os urubus, a comerem as reses mortas em podridão, davam como certeza de civilização: “Se tem carcaça, tem a casa do dono que a perdeu para algum carcará.” E era ao menos um canto onde pedir um pouco de água de moringa, encher a cabaça de líquido e deixar o cavalo, suado, quase esquelético, descansar o fardo de transportar quem sequer lhe dá atenção. Se sorte tivessem, até um canto de casebre lhes restaria para pernoitar. A feira da cidade maior mais próxima era o destino final, onde venderiam os poucos sacos ensacados do milharal.
-- E aí, Zé, conseguiu colheita boa?
-- Como, se a chuva esqueceu de cair por aqui...
-- Estou quase igual. A sorte é que também plantei feijão. Deu umas duas sacas. Consegui ao menos carne seca e um corte de pano pra Joaninha.
-- Sorte sua. Ainda vou ter muito que suar na próxima roça pro prejuízo recuperar.
Se despedem e seguem seus rumos diferentes, referentes a ir ou voltar. Se despem de emoções e viajam a sertões singrar. No meio do caminho, a capelinha de Santo Antônio, um atônito padroeiro de quem acredita poder ser feliz num matrimônio, os espera para rezar. Afinal, é o único prazenteiro lugar. Bastião para seu cavalo que arfa as últimas gotas de saliva que ainda conseguem brotar, se ajoelha diante da construção diminuta erguida apenas para agradecer alguma finda labuta. E clama e ora e pede aos céus chegar tão longe onde qualquer planta nova possa plantar, seja no sertão ou no Canadá. Pois, para quem poucos sonhos tem, basta esperar que a ilusão mais próxima vire a certeza da ilusão. Na curva logo depois do estradão, um urubu saliva ao ver o cavalo de Bastião. No céu, a graúna foge do carcará.
terça-feira, 5 de agosto de 2025
Na discussão
Por Ronaldo Faria
-- E aí, vai sair porrada ou não?
-- Tenham calma, isso é discussão besta! Ela é gostosa e ponto final!
-- Nem fodendo, vocês são homens ou não? Mete a mão ou a faca logo na cara!
-- Porra, vocês estavam bebendo de boa até Esmeralda aparecer!
-- Pega logo a garrafa vazia e quebra na cabeça dele!
-- Mulher é pra se admirar, não é para se matar!
E tantas frases mais ditas por apaziguadores e detratores. Malditas ou benditas frases. Tudo para que os amigos de bar virassem a mesa num trocar de socos e pontapés ou que voltassem a beber voláteis e unidos, em risos.
-- Se o cacete rolar geral, vou chamar a polícia! – gritou detrás do balcão o dono da birosca, Manoel do Benfica.
Acima da cena a lua surgia despretensiosa no céu e ciosa de que talvez visse seu prateado iluminar o vermelho de sangue a se esvair morro abaixo. Uma pomba trepava com outra à espera de um ninho de ovos a brotar. O cachorro da Dona Clemência latia desesperado com o gato do Seu Vicente que subiu no muro só pra sacanear. João Pires da Gama, que não era vascaíno, chegava do trabalho, cansado, e só queria tomar uma dose para relaxar. Lucrécia, sempre com raiva dos pais pelo nome infausto, seguia para a vendinha onde iria comprar o feijão da mistura noturna (se é que o resto do botijão ia conseguir cozinhar). Gastão, motorista do lotação, enxugava o suor de chofer a passar pelo local na direção da garagem do circular. Valtinho da Pindura, cujo nome já falava tudo, implorava outra pra pagar depois, quando a vida melhorasse. Assim, com a vida a seguir sua sentença e retidão, foi preciso que Esmeralda, vendo a cena que causara sem querer, resolvesse voltar e gritar alto, do alto da maior formosura do lugar.
-- Seus dois bostas, ouçam bem: sou pra casar, sim, quando eu assim decidir e quiser, e também pra ficar de bunda ao ar livre quando desejar. Mas isso porque eu decido o que quiser. Mas, pra vocês dois, bundas moles ao contrário da minha, não tem nem casamento e nem rola-rola na rola. Se eu precisasse de merda iria para o banheiro cagar! Tomem tento e jeito, arremedos de algo...
Dita a sentença, linda no seu requebrar natural que tanto chamara a atenção do mundo inteiro, ela voltou para casa, onde tinha muito mais o que fazer. Estarrecidos, macambúzios e sorumbáticos, perplexos e sem ação, os dois antes beligerantes voltam a se sentar nas cadeiras que serviriam de armas letais. Com riso amarelo nas bocas quase desdentadas, se olham e falam, quase uníssonos: “Seu Manoel, desce outra pra comemorar!” Na biqueira próxima o vapor desce com duas gramas que o bacana, que riu da cena, quer comprar. Do alto, a lua respira feliz por apenas servir de sentença para os poetas.
domingo, 3 de agosto de 2025
Um gigante do jazz que viveu só 30 anos *
sexta-feira, 1 de agosto de 2025
Creiam na Clementina
Por Ronaldo Faria
Ela, Clementina, tinha o mesmo
sobrenome do marido – Silva Camões. Coisa de casal antigo, em que a mulher
virava posse lavrada em cartório do marido. Na pose do tempo do porta-retratos,
um possesso tormento das frágeis ilusões de cada um. A casa seria quase um casebre
se levarmos em conta o jeito rotundo com que ela se espelhava diante da linha
de trem que carregava as pessoas à sua tragédia, quase comédia, de viver para
trabalhar e minguar. Mas nessa casa, construída nos Anos 40 do século que já se
foi, Clementina era um ser clemente de vida, temente da sorte, ciente de que o
ser humano é mais um mero vivente.
Seu marido era Astrogildo. Astrogildo Soares da Silva Camões, escrevente num escritório de contabilidade no Centro da cidade. Antes, na juventude, tinha sido professor de datilografia numa escola do subúrbio – Time Is Money. E anteriormente era engraxate de sapatos na Estação Leopoldina. Ali, entre cruzeiros velhos, apitos de locomotivas e fumaça de lotações com seus escapamentos cinzentos, sonhava em viajar. Conhecer o Brasil, juntar sabores e odores, sotaques e suores, olhares e toques noturnos em bares e biroscas. Mas o tempo passara e ele ficou por ali mesmo, a seguir a Avenida Brasil a torcer para fugir dos tiroteios matinais. E dizia a si mesmo: “Já está bom demais”.
Eram um casal como tantos outros milhares, feito espigas de milharal que servem de pombal aos pássaros sem lar. Há muito não faziam amor, se é que um dia o tenham feito. Afinal, amor é coisa de dois iguais, como animais. E Clementina e Astrogildo eram partes diferentes do astrolábio a indicar a direção das estelas que costumam brilhar nos céus surgidos quando as paixões urgem maiores que o destino em comum. Logo, apenas eram. Erráticos no seu dia a dia, diários na rotina redundantemente igual, díspares seres que nunca deveriam ter se juntado. Mas Astrogildo a vira numa noite já bêbado, nos raros percalços daquele jovem descalço, e Clementina, perto de ser apenas a tia preferida, achou que era a hora de sair da surdina. E se juntaram e deu no que deu: um constante adeus mesmo sob o mesmo teto.
Mas, tão abrupto como o cocô
de pomba que lavou o busto do marechal, o destino resolveu a questão de forma
quase informal. Foi quando um périplo de crentes, desses chatos que acham que ninguém
dorme e batem palmas logo quando o dia ainda raia, chegou ao portão de
Clementina e Astrogildo. “Podemos falar a palavra do Senho!” – disse o crente
mais velho e fanho, sem o mínimo brilho no olhar. Clementina, que não tinha
mesmo muito com quem falar, aceitou ouvir a ladainha. E se sentiu rainha por
ter um bando de mequetrefes à sua frente. Ouviu com tal atenção que queimou o feijão.
Enquanto isso, Astrogildo terminava outro dia de batente. Desceu as escadas do prédio
de escritórios com seus notórios amigos de trabalho, todos suados porque o proprietário
do lugar não tinha mandado consertar o ar-condicionado, e pegou o ônibus para
voltar ao lar. Viu as mesmas ruas, a mesma avenida, o trânsito lento, o tráfego
interrompido por causa do tiroteio na Maré, as orações do passageiro do lado
para a bala perdida não o achar. Chegou cansado, com vontade apenas de um banho
e de um prato de comida junto com uma dose de cachaça. Mas qual, Clementina
tinha ido para o templo honrar a Deus, convencida pelo pastor que precisava de
nova ovelha para o dízimo doar. Diante de uma panela de feijão queimado e
esturricado, Astrogildo, sem entender o sentido daquilo, pôs-se apenas a chorar.
Nos trilhos defronte, outra composição passa a levar vidas e ilusões.
quarta-feira, 30 de julho de 2025
Dia útil
Por Ronaldo Faria
Despejar o líquido insípido e amarelo no ralo que há entre a garganta e a tântrica certeza do cérebro a se embriagar. Brincar de ser e rever os raros momentos em que os tormentos lavam de sabão em pó o pó que move a amplidão da criação. Nas mazelas que correm feito gazelas, as procelas que se escondem nas pradarias cercadas de padarias para a larica fugaz, o cismo de voltar.
Entregar os tragos dados aos orixás, libertar nas têmporas que o tempo sintetiza em segundos próximos e últimos, fugir na prisão que a liberdade da loucura procrastina, mas dá. Sequenciar sequelas e sequências, ausências, proficiências, ciências ocultas e cultas que o tempo faz prenunciar. Nas etéreas lambidas das feridas, nos unguentos que regem a sanidade profanar, se recriar.
Dançar entre pernas, paixões e derradeiras brincadeiras. Suar nas camas sorrateiras que se dão sobremaneira. Feito asneira, rodar por aí sem eira e nem beira. Brincar de papai e mamãe antes desses terem filhos e deixarem de se amar. Catar conchas e esconde-las entre as coxas para o pescador não dar falta delas. Pecador, rezar mil terços e a cada continha do crucifixo jurar que vai mudar.
Fazer lençóis como anzóis que pescam os pecadores que se entregam à luxúria que a vida dá. Falar pelos cotovelos, silenciar nos novelos que o amor faz enrolar. Esfolar a pele nos pedidos sofridos que a amada ou o amado dão para fugir da solidão. Ser talvez ou senão. Em verbos rompidos, versos retorcidos, bisonhos gritos entoados em pleno torpor, saber que a loucura é a maior razão.
terça-feira, 29 de julho de 2025
Mel Tormé & Tony Bennett: os estilistas da canção *
segunda-feira, 28 de julho de 2025
A pensar em pitibiriba longe de Pirituba
Por Ronaldo Faria
sábado, 26 de julho de 2025
Outrinha felizinha, com Caetano e filhos
Bustamante, amante colérico eclético, estava casado com Clotilde, besuntada de mel e lua. Diria até que era algo que não há palavra apalavrada para cultuar ou explicar. Era! Apenas era, feito hera que nasce de repente num rompante. Isso bastava.
Eram casal acasalado no maior primor, mesmo tivesse ele voz anasalada. Meio gordinho e fanho, ex-favelado largado, alargado pelos aros de luz que chegam logo depois da escuridão nos buracos do teto de zinco, Bustamante sentia-se órfão infindo nos braços de Clotilde.
Ela, donzela de um cavaleiro só, dessas que zela seus orifícios apenas para o amado, vivia a sambar no lar. Mesmo com sua vida fora das paredes, como benzedeira da paz, Clotilde vivia a vida a brincar de vestido que rodopia na barra que a saia faz subir até o joelho no luar.
Loquazes, algozes de si mesmos, feito amor a esmo, brincavam todas as noites como animais que convergem num açoite à volúpia que a coruja, atenta, tenta decifrar. Viram uma meiose que o poeta, na sua ignorância bíblica e real, sabe lá o que pode ser ou será. “Meinha pode ser?” – pergunta o depravado que Carlos Zéfiro fez feliz em gerações de um século atrás.
Viventes e crentes, emergentes de lembranças infindas nas findas esferas que as mais bestas feras entrelaçam nos pesadelos noturnos, eram um só. Sem dor e nem dó. Caçadores de urgências frígidas, frágeis seres, volúpias efêmeras, sabiam traduzir a vida. Crianças cruas naquilo que o mundo traz e dá, eram e são anciões nas loucuras que as agruras de cada dia deixam como semente para brotar.
Logo, se amaram e se jogaram nos precipícios que nem os prepúcios ainda virgens sabem onde vão adentrar. Entre lábios que se misturam de bocas e línguas e aqueles que ficam escondidos nas pernas da mulher, foram em desterros a se entregar. Onde? Em qualquer lugar. Afinal, quando você tiver vontade de se largar, faça-o. Face na face. O resto, proscrito céu com gosto de mel, saberá criar nuvens fugidias à loucura do amor. Senão, valeu a intenção no tesão que nesse momento, feito minueto, é apenas sentimento de Orfeu.
quinta-feira, 24 de julho de 2025
Na vibe de Vander Lee
Cego em seus egos vesgos nos périplos, Gumercindo vociferava a lavra de quem caminhava entre nuvens ou preamar. Na canseira de se achar, proliferava matizes no que hoje se chama expertise. Experiente nas estradas famélicas que nem as velas sabem iluminar, brinca de brincar na irreal crença de ser ou estar. Nos goles de cachaça rechaça a tristeza que teima em chegar para se aconchegar.
De olhos vívidos e brilhantes, borbulhantes, Catarina tinha nas retinas a mansidão. Entre a vastidão do mundo e a devassidão da vida, ia no seguir de ir e vir. Na prece de quem não tem pressa, passeia incólume na luminosidade da cidade que vive, gira e roda. Dá mil cambalhotas. Deixa versos jogados no chão em reviravoltas. Se entrega. Ou será entrega-se? Para ela, pouco importa se tiver de cruzar mais outra porta.
Agiota de voltas e reviravoltas, Gumercindo é talvez mero pretérito imperfeito, seja lá o que isso for. Na dor do analfabetismo do destino, sabedor de sua ignorância plástica e lacônica, platônica quiçá, segue agora no torpor da hora.
Menina que surge feito crisântemo que flora e aflora lá fora, onde achamos enxergar, Catarina cata sílabas e gestos, tece frases e versos, caminha no alvorecer. Na sua estrada calcinada em que o silêncio é nada, apenas surge em todo esplendor.
No fim, enfim, na efeméride que se escreve sem saber, se juntam e se untam de paixão. E fica apenas o poeta, apostata de qualquer fé, a viajar nas suas trevas que se entrevam e se entregam no muito que parece ainda pouco em toda imensidão.
Na viagem
Por Ronaldo Faria Viajante de suas loucuras diuturnas, quase equidistante entre a vida e a morte, Januário persegue qualquer polis que vire ...
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Por Ronaldo Faria O CD Cazas de Cazuza – A Ópera-Rock é de 2000. Dez anos após a sua morte, vítima da Aids. Dos discos que homenagearam d...
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Por Ronaldo Faria -- E aí, vamos? -- Claro. Só se for agora... Carlos e Kelé, amigos de infância, suburbanos desde os primeiros panos de ...
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