quarta-feira, 16 de julho de 2025
Pra esquentar
terça-feira, 15 de julho de 2025
Charlie Byrd e a música brasileira *
segunda-feira, 14 de julho de 2025
Friorento e acalantado
Por Ronaldo Faria
Faz frio. O corpo tem arrepio
e não se ouve da coruja sequer um pio. Ela está entocada numa toca qualquer, a
tentar agasalhar seu pé. Na rua, casais se agarram e se juntam mais do que o normal,
como fosse junho o início de mais um Carnaval. Quem sabe a roçar pernas e braços,
com tantos alentos e enlaces, aconchegos e abraços, não se consiga fazer a
noite perpetrar o resto de sol e fazer o mundo esquentar? Mas qual, na Terra
não há mais lugar para anjos. Os demônios que passeiam nas esquinas e camas
fazem da lua seu réquiem e ruminam a estapafúrdia certeza de que não vale a
pena viver.
As janelas fechadas para as
fachadas cinzas e cheias de concreto armado parecem armas prontas para dispararem
no disparate que vem a cada gole de vinho tinto. A tintilar nalgum lugar perto,
moedas caem do bolso do avarento que deixou de pagar a conta de luz. Sem aquecedor,
vive a bater seus dentes e ranger ossos na plena dor. O odor em volta é de
restos de comida carcomida por vermes que aprovaram o fim do frio no
congelador. Deitado no sofá, soturno e alquebrado pelo tempo, Gumercindo é um
gourmet da tristeza, quase um comensal. Lá fora, afogada em formas e versos, vive
Beatriz.
Desejada por todos aqueles que
a conseguem ver ou enxergar, está a ler um livro de poesias, desses que se lê
junto com café quente num boulevard. Quase desnuda, sob as cobertas que chamam
de edredom, sente sua pele tocar o cetim que serve de lençol. Seus raros pelos
brincam de levantar numa estática e elétrica estética a quem gostaria de estar
ali, a servir de calor à falta de pudor. Beatriz, que Michelangelo teria
esculpido em tamanho real e desejo irreal, sabia que vive nos sonhos e
pesadelos de homens e mulheres mil. Mas, agora, na fria noite que se atira
gelada, é apenas um pedaço de sina.
“Cretina, por que me deixou?” O
grito de Evangelista sai de uma lista de impropérios etéreos que surgem da sua
garganta seca e perdida na derradeira mesa de um bar. Ébrio desde menino, famélico
e magrelo, se fosse visto de lado ninguém o enxergaria. Aliás, mesmo de frente,
bem defronte que seja, ninguém o vê. Mas ele não liga mais para isso. Submisso
às lembranças de infância, refém do amor de Maria, é outro Zé na fila do bonde
que há muito deixou os trilhos enferrujados. Penitente renitente de uma oração,
dessas que se recita nas procissões, apenas espera o garçom expulsá-lo do
lugar.
Mas na boate que funciona no
meretrício em tênue luz vermelha plena de devassidão, Joana gargalha ao último
freguês. “Esse albanês é uma besta de pinto pequeno!” Bento, segurança do
local, ri também. O turista, de nome Vasil (não vaselina), sequer entendia o
que os gentios falavam. Feliz pela noite tragada e entumecida, pagou em dólares
e partiu. Seu navio iria sair logo no amanhecer. Para Joana, a trama tinha
findado. Era hora de tomar mais um trago, por conta da casa, seguir para o
subúrbio e dormir. A névoa gelada ao derredor não sabe ver ou ler a sua dor. Daqui
a pouco, novo retomar do mundo louco.
Um dia Gumercindo encontrou Joana a trabalhar e logo descobriu que era nela e nas suas pernas que seria feliz. Catou cada vintém que tinha escondido debaixo dos tacos de madeira e entregou um a um à sua nova amada. Ela, estupefata com tal querer, adotou o homem e prometeu morar com ele, desde que esse pagasse a conta atrasada da Light. No dia seguinte, na fila do Serasa ele estava lá. Já Evangelista viu Beatriz numa livraria tosca na busca de nova leitura atávica. De lado, para que ela não o enxergasse e se assustasse, não acreditou na cena e demasiada beleza. De repente, ela lhe tocou o ombro: “Sabe onde eu encontro Baudelaire?” Foi amor à primeira pergunta e o esquecer eterno de Maria.
Hoje os quatro vivem os dias frios a trocar cobertores, chaves de aquece/esquenta no chuveiro e brincadeiras que surgem depois de garrafas de vinho, conhaque ou bourbon. No interior da metrópole que aos poucos vira acrópole, vão tocando seus dias entremeados de madrugadas onde cada respirar faz fumaça das gargantas brotar. E o tempo e os minutos passam no relógio, perpassam novos aniversários e a certeza de que a esteira da história não para de rodar. Lá de cima, bem acima do celeste luar, alguém ri de seus personagens e daquele que, quando o sol chegar, estará a descobrir como nova ressaca suprimir.
(Ao som de muitos músicos e canções)
sábado, 12 de julho de 2025
Edu que foi e eu logo me acho lá
Por Ronaldo Faria
-- A todos nós, loucos no tempo que a terra deu pra estar, a certeza de que cada ressaca valeu o tempo que se fez em si, sem invólucros, estar.
quinta-feira, 10 de julho de 2025
Arrigo com Lupicínio
Por Ronaldo Faria
A frase de Apolinário, que nunca fora otário na vida (apesar de assim uns imbecis o acharem), apenas se escondeu no personagem atávico e quase trágico de uma música que Lupicínio Rodrigues assina. Sentado e quieto, ereto ainda, ele revê e vê os tempos áureos e plausíveis, sensíveis e críveis, ou como diria Lupicínio, quando os espelhos lhe dão conselhos.
Na cama, azáfama e vestal, o personagem imaginário e etário vive as juras largadas e versejadas do ultimato trágico e fugidio. Para ele, parafraseado em cada nota da canção, toda a nota belisca seu coração. Proscrito e escrito o tal dito no ditame infame do versículo maldito. No palco que aplaca a falta da falácia que deixa a barganha buscar a felicidade na tonalidade melhor para o bálsamo que se refaz a cada doce beijo doado e doído nos lábios que nunca mais se verá nos versos. Quiçá, novos amores se descobrirão. E cada vida se verá na transgressão da iluminada realização.
-- Escrever mais, por quê?
-- Sei lá! Talvez porque na geladeira ainda há algumas latas a beber.
-- Ou talvez dependa apenas daquilo que você queira falar e dizer.
-- Pode ser...
No palco nostálgico, que já está difícil descrever ou prever nas pernas da mulher que se alisa a cada estrada que poderá chegar, a sina. Tudo como uma metonímia, seja lá o que isso quiser ser. Ao resto, talvez um saravá. Mistura de letras, sílabas e palavras, frases desanuviadas, desvairadas, declamadas por um bêbado qualquer. Na fé, façamos a tragédia que a comédia emerge nas águas lavadas. Catatônicas, afônicas, tragicômicas, atônitas, as deixemos tornar desejo em louvor.
terça-feira, 8 de julho de 2025
Uma croniqueta feliz, pra variar
Por Ronaldo Faria
No brilho do mar que a todos nos damos e se dá sob a luz da claridade ou de uma rã, como diria o poeta das notas, Donato, vai o casal acasalado de há pouco e, como todo amor afoito, louco para se recriar no coito. Seus corpos, avermelhados do sol amarelo, brilhantes nos grãos que a areia permeia e dá sem cobrar um tostão, se espalham e se espelham entre os fortuitos olhares daqueles que queriam estar ali naquele lugar. E continuam voláteis a caminhar e flanar no asfalto de 50 graus à sombra. Logo irão se aninhar em dois num só, sem dó. Se amarão, se agarrarão, irão se dispor à felicidade de dar e receber, crer e encher de beijos os queijos que serão servidos e sorvidos a cada novo café da manhã. Farão promessas mil, catarão espigas de milhos perdidas em plantações de girassóis. No após? Não querem nem saber. Como diria o profeta: “Que o futuro vá se foder!” Com João Donato, neste ato curto e prático, a prática de querer (ao menos nos teclados) ser feliz...
(Ao João Donato)
domingo, 6 de julho de 2025
Uma hora de jazz com todo mundo *
sexta-feira, 4 de julho de 2025
Indagações táteis e fúteis
Por Ronaldo Faria
O que fazer ou refazer no extinto e retinto prazer? Que diásporas e
fugas criar? Entre perdidos e achados, autoproclamados suburbanos derreados,
como reaver a vida nas longínquas estradas de ser ou não ser? Nos provérbios
que os verbos dão, desvão e raros versos.
No passado próximo, entre o ócio e o pior beócio como mentor, o homem, na verdade eterno menino que teima em não crescer e ver o mundo como ele é, viaja feito subalterno nos porões do lisérgico barco sem rumo ou lugar a chegar. A se largar, num lagar etéreo e heterogêneo, homônimo do mais heteronômico ser, se lambuza de si mesmo na luta de cinco contra um. É apenas alguém a sorver pernas e penugens púberes num perrengue lunar. Bêbado de poucos goles, parcimônia de si, hecatombe à espera de se contemplar e se completar, locupletar. Para o futuro, esse fortuito clamor da dor, pouco saberá. Cassimiro é mistério e etéreo ser.
Na efeméride que o proselitismo dá, viaja voraz e incendiário no diário quaternário que somente os loucos e trôpegos sabem trazer e ler, entreolhar, no tardar. É um a mais nos tantos bilhões que caminham em descaminhos nas trilhas que a jusante da maré dá. Ao Deus, algo se fará. A perder chinelos, foder em sonhos famélicos de amor, derrear em qualquer lugar, sorver banquetes inebriantes e roer ossos de pés de galinhas mortas e pútridas, Cassimiro voa feito andorinha de uma asa só. Refeito e contumaz prisioneiro de seu passado sem cor, pintado numa aquarela que não pega pincel ou hidrocória disseminação, ele apenas refaz nas suas nuas cenas as penas que não cobrem seu corpo torto e roto. Quando com penas coladas com cera chegar perto do Sol, cairá feito mitologia num imenso e inequívoco mar. Se afogará de felicidade ou maldade e, por fim feliz, viverá a marejar.
quarta-feira, 2 de julho de 2025
À noite
Por Ronaldo Faria
terça-feira, 1 de julho de 2025
Uma bela voz navegando por clássicos de Jobim *
segunda-feira, 30 de junho de 2025
Na retórica histriônica da esotérica memória
Por Ronaldo Faria
sábado, 28 de junho de 2025
A reencontrar nos contos de além-mar
Por Ronaldo Faria
-- Poeta, meu esteta? Sou eu sim...
A resposta bastou, mesmo curta e simples. Primeiro o abraço apertado, desses que dá vontade e desejo de se acordar e dormir com ele. Depois, o afago carinhoso, tinhoso por mostrar que nada irá parar por aí. Então, como já era de se esperar, um beijo longo e repleto de línguas, saliva, sabores e saudades.
-- E aí, como você está? Quanto tempo...
-- Pois é, um tempão. Teria dado tempo até de ver nosso rebento formado em qualquer doutor, se algum rebento tivéssemos tido.
-- É, até teríamos. Mas a tirania do destino assim não o quis.
-- Mas se falávamos tanto numa revolução no passado, porque não a fizemos em nós mesmos?
-- Acho que nos faltou o ímpeto e a coragem que invadem os verdadeiros revolucionários da vida.
Agora duas risadas soltas e loucas, dessas que mostram dentes, cáries e obturações, dão lugar à mesa do bar. Uma mistura de felicidade e arrependimentos forjados e fechados a unguentos que o tempo traz e dá toma conta do lugar. Os olhos dos reatados amores se entrelaçam feito condores na busca da presa. Sem pressa, feito remessa de cartas de quando eram jovens e demoravam um sentimento para caírem nas caixas de correios correlatas, se beijaram outra vez e outras vezes mais. Eram como reses soltas no pasto verde sem saberem em que matadouro irão terminar.
-- O que você fez de bom nesse tempo?
-- Estudei. Muito. Hoje eu sou doutora. Dou aula em universidade, moro na mesma cidade e tenho até nome de espaço do saber. E você?
-- Continuo o mesmo: um contínuo na mesma firma chamada destino. Acordo, ando, desando, sonho, escrevo, enlouqueço, padeço, rimo alhos com bugalhos, me embriago e sonho com nós dois. Às vezes sou um pouco alegre, outras tantas vivo nas tristezas devagar.
-- Nada deu certo naquilo que você dizia ser um incesto popular?
-- Deu. Acredito que pude deixar minhas marcas nalgum lugar. Se foi em areia fina, pântano ou beira de mar, sei lá. Vivi em mim e meus personagens, aqueles que sem me sondar antes invadem meu mundo e me transformam em tantos centenas ou milhares demais.
-- Ser muitos e tantos deve ser bom demais.
-- Talvez sim. Talvez não. Mas, hoje, me basta estar aqui com você.
Riram muito outros tantos, se tocaram, entreolharam, beberam, beijaram, desejaram, venceram décadas demais, submergiram nas coisas que não há como explicar. Terminaram num quarto, a gozar. Depois, um banho longo, ela dependurada nele com a água quente a jorrar e as pernas e braços a segurar o gozo que se esvai. E voltaram ao amor que tanto queriam recuperar, se borraram de cores que tal amor traz, transpassaram pernas e braços, em amassos se amassaram e amansaram e amainaram tanto tempo perdido e urdido no ardido que dois corpos têm para se dar.
-- E agora?
-- O que agora?
-- Vamos assim continuar?
-- Você quer?
-- Pergunta de homem para mulher?
-- É!
Resposta não houve. Ambos se enroscaram em felicidade plena e amena, dessas de comercial de remédio para dor de cabeça. Foram vistos depois num boteco de beira-mar a comerem torresmo e couve. Creiam, enfim, que fim feliz também há pra se narrar. Na avenida defronte um velho sonhador joga para Iemanjá a sua derradeira flor.
quinta-feira, 26 de junho de 2025
Por quê?
Por Ronaldo Faria
terça-feira, 24 de junho de 2025
Com os Paralamas do Sucesso e a porra de uns óculos que não dão pra ver a tela direito
Por Ronaldo Faria
Óculos lavado com detergente e a visão retorna no torno que se crê seja real. No afoito lembrar, cavalgar entre a mansidão da incógnita perdida sentença. Na falácia que a profilaxia dá, versos a mais, mansidões inconstantes, caminhadas frágeis e constantes. Na métrica que a jusante do destino em desatino perfaz, façamos os trajetos da vida como fossem meros metros que se percorre numa trajetória diurna e banal. Aval? Com todo respeito, pau no cu do trivial.
Nas ruas onde passamos, tracejamos e seguimos, loucos e sem noção, possamos retornar na involuntária glória de sabermos respirar. Agora, mais duas latas e tudo em nove vai terminar. Agruras de um tempo em lumiar. Bazófias (o que será isso?) a tremular na tela do além? Afogado em si mesmo, a esmo, que posso ter repetido nos tanto similares simulacros de textos iguais e desiguais, a vagar no limiar de ser? Afinal, são 42 anos de uma terra nova e mais 24 da natal. Ao todo, o que reviver? Parcimônias e insônias a travarem a sentença que a distância da euforia, da loucura e da lembrança dão.
A chegança num lugar desconhecido, a quase fuga, o destino a cravar seus destinos, caminhar e acreditar que a certeza de antes foi certa, na vacância da sedução e da escrita do quem sabe talvez, senão. E foram tantos anos, tantos erros e acertos, tantas noites e madrugadas tragadas no silêncio de um ser só no só ser. Cigarros, pigarros, porres, vômitos, quedas e muitos levantares, pensamentos atônitos entre um escurecer e outro clarear. Vidas clarividentes, mesmo que para um falte os dentes, fatal clemência que nem o papa abençoará no final. Ao todo, nas torvelinhas flegmas daquilo que antecede a loucura da razão, venha apenas a ressaca já antevista e certa. O resto, restante, se faça na lareira que não há. Essa vida é uma besteira que a esteira no chão do casebre do Nordeste faz parecer enternecer.
domingo, 22 de junho de 2025
O talento prodigioso de Marcus Roberts *
Na viagem
Por Ronaldo Faria Viajante de suas loucuras diuturnas, quase equidistante entre a vida e a morte, Januário persegue qualquer polis que vire ...
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Por Ronaldo Faria O CD Cazas de Cazuza – A Ópera-Rock é de 2000. Dez anos após a sua morte, vítima da Aids. Dos discos que homenagearam d...
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Por Ronaldo Faria -- E aí, vamos? -- Claro. Só se for agora... Carlos e Kelé, amigos de infância, suburbanos desde os primeiros panos de ...
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