Por Ronaldo Faria
quarta-feira, 18 de dezembro de 2024
Sonhar e realizar
terça-feira, 17 de dezembro de 2024
Circo sem sol ao léu
Por Ronaldo Faria
domingo, 15 de dezembro de 2024
Willian Basie, o Conde do Jazz
Por Edmilson Siqueira
Afastem o sofá porque vai dar vontade de dançar. E ao som de uma das melhores orquestras de jazz de todos os tempos: a Count Basie Orchestra. Esse disco em particular, nas suas dez faixas, promove todo um clima romântico, próprio dos anos 1950 em que ele foi gravado. E, para completar a faixa principal e que dá título ao disco é nada menos que "April in Paris".
sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
Cupido ao som de Arpi Alto
Por Ronaldo Faria
-- Cretino! Precisava isso?
Irritado, molhado, Fernão xinga o motorista que certamente nem ouviu, em velocidade e janelas fechadas.
-- Tudo bem com você? – pergunta à moça que pingava igualmente.
-- Estou. Quer dizer, devo estar, tirando isso.
-- Como tem gente imbecil nesse mundo. Precisava esse escroto passar desse jeito? Vai tirar a mãe da zona ou o pai da forca?
-- É...
-- Desculpa o vocabulário. É que eu fico descompensado como algumas pessoas não têm o mínimo senso de civilidade e só pensam em si. Funcionam para o próprio umbigo.
-- Eu sei como você se sente. Penso o mesmo.
-- Então, menos mal. Meu nome é Fernão.
-- O meu é Isadora.
-- Tirando o acontecido, prazer...
-- Está esperando que ônibus?
-- Eu vou para Copacabana. Quer dizer, achei que ia beber um pouco. Agora, tem o risco de que eu pegue uma pneumonia. E você?
-- Também estava indo pra lá, encontrar uma amiga. Mas ela acabou de me avisar pelo celular que não poderá ir. A casa dela encheu d’água.
-- Coitada. Será que ela precisa de ajuda para puxar a água pra fora?
-- Acho que não. Ela está acostumada. Fechou o tempo já coloca tudo pro segundo andar. Na verdade, a parte de baixo só funciona mesmo no tempo da estiagem. No período das chuvas, fica quase clean.
-- É, a necessidade faz a decoração.
-- Com certeza.
-- Então, pra não perdermos a viagem de todo, quer ir comigo a um bar comigo? Eu garanto a conta, já que o convite é meu.
-- Aceito, mas vamos rachar. Já ouvi falar de direitos iguais?
-- Sim, claro. E sou adepto do não é não.
-- Espero mesmo. Sou faixa azul em capoeira.
-- E eu no máximo pratico halterocopismo. Fique tranquila.
Riram, dividiram um Uber que finalmente atendeu o chamado, já que o ônibus esperado estourara o motor com a enxurrada, e por horas, agora secas, conversaram, versejaram, trocaram ideias, soluções, aflições e números de celular. Prometeram se rever mais vezes e, quem sabe, um dia mudarem o status no Facebook. Despediram-se e partiram cada um para o seu lado, com sorrisos e beijo limitado ao cortês. No centro de controle de trânsito, porém, a discussão continuava sem solução. O carro que os molhara passou num sinal fechado próximo ao ponto de ônibus a quase 150 por hora. Até aí, tudo bem para um infrator. Mas, passado dias do Carnaval, o que fazia um Cupido ao volante? Uns juram que é fantasia que grudou no corpo do folião, já os outros dizem que é real demais para sê-lo. As apostas já estão feitas.
quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
Astrud, perdoe, eles não sabem o que fazem
Por Ronaldo Faria
-- Calma, Walter Wanderley. Será que é isso mesmo? Assim a esmo?
-- Claro que é. Vá ao Google e comprove a minha tese!
-- Nem fodendo. Não vou deixar de beber mais uma dose só pra vasculhar o mundo digital.
-- Não vai? Então não questione. Quer saber, que merda é isso: uma voz ser relegada ao esquecimento até deixar de ser. Aí todos os pecados são apagados e pagos, os filhos da pauta e da puta, com todo o respeito às putas e aos pauteiros, viram anjos de aureolas. Poupe-me! Por favor, ao menos isso.
-- Tudo bem, Walter Wanderley. Aceito a sua tese. Mas sempre não foi assim? O fim é que traz à tona a biografia de cada um?
-- Sei lá. Mas se o é, tudo não passa de um teatro sem plateia. O ser humano não é e nem faz parte de uma alcateia. É único, desde as digitais. Aqui, ainda tem o CPF. Logo, cada um colha depois de tudo aquilo que plantou. Foi um bosta morfético, seja igual. Um escroto que só pensou em si e fodeu o resto, seja jogado ao lixo da história. Mas lembrar da Astrud só depois da morte? Aí já é demais.
-- Concordo. É sórdido, triste, inglório. Mas a glória não é dada a poucos?
-- Com certeza. Ao que resta fica só uma fresta que será fechada quando último lembrante sobreviver ao tempo discrepante. Mas, como dizia o poeta, para isso fomos criados...
No redor ressoa Stan Getz. Surge a voz do João. Astrud permanece íntegra e real. Nalgum lugar, neste quase fim de mês que irá durar um dia a mais que o normal (até hoje não entendo esse mês plural), outro alguém irá entender este fim. Pra nós tudo, que tenha dó de nós o Senhor do Bonfim. Saravá!
terça-feira, 10 de dezembro de 2024
Na espera da esfera
Por Ronaldo Faria
O pseudo-poeta espera a interlocução com a próxima esfera musical e etérea para tentar escrever. A ver, algo mais ou mais nenhum. O escriba que crê poetizar fica no limite entre a crença e a desavença que há no criar e findar. E na brincadeira de ser, seremos só limiar.
Amália Rodrigues e Vinicius de Moraes: um registro histórico
Por Edmilson Siqueira
No encontro na casa de Amália estiveram presentes também outros poetas, como Ary dos Santos e Natália Correia. O encontro durou horas, mas as gravações foram editadas para caberem numa só hora, o que resultou num LP duplo. O resultado parece amador a princípio, mas os fados e as músicas brasileiras são de alta qualidade e as poesias, principalmente de Vinicius, são ótimas, tanto que há quem considere o disco como uma relíquia da música e poesia em língua portuguesa.
segunda-feira, 9 de dezembro de 2024
Tom e Maucha
Por Ronaldo Faria
No Leblon a noite cai doidivanas e infante. Entre morros, mares e areais. Ela sabe, sacana que é, que será envolvida em subterfúgios. Lamúrias, paixões tresloucadas, amores infaustos, beijos de línguas entrelaçadas, afagos no minimalismo artístico e profanado pelo fim que logo chegará no derradeiro gozo exposto no lençol. A noite agora denota em notas na voz da Maucha Adnet os sons que Tom Jobim sorveu de si mesmo e lançou ao mundo para ser devorado como o ardor de viver. E ser. O é.
-- Se eu chegar amanhã bebum até que é bom. Não sinto a agulha na veia penetrar e estarei sendo eu, verdadeiro e voraz.
Clarêncio, na clarividência que o nome dá, antecipa a picada e espera, à espreita da finitude, que o exame lhe dê mais alguns poucos anos de vida.
-- Gostaria de viver um tanto mais. Não pelos aniversários, já que isso não me apraz. Só pelos tantos dezenas e mil litros ainda a tomar e letras a escrever e professar.
Cordeiro, o amigo que cada vez parece esquecer o limiar e o lumiar, concorda enquanto puxa a corda do violão desafinado para tentar lembrar de ser. Na mesa de bar ficou o tempo ausente de fretes e mudanças, pajelanças e danças. Mas, afinal, ao final de tudo, no turbilhão de lembranças, ficam somente as sementes que brotaram bem além do além-mar.
-- Logo mais chegarão as águas de março a decretar o fim do Verão.
-- E precisa? Quer matar o povão? Tem coisa mais fácil: coloca um capitão na marcha estradeira.
Fulgêncio, fugitivo do passado transgressor e opressor que o passado deixou nas graças de Deus, prefere não relembrar tempos atrás. Que as flores que ainda sobrevivem deixem em si a paz. Para todas as eternidades.
Aos poucos, no espocar de fogos que nunca foram acesos, os dois se juntam em pensamento. Há lamento? Não. Juramentos? Não. Tormentos equânimes e destinos atirados num catavento? Não. Talvez um silêncio deletério, mistério de loucuras transmutadas e caladas. Senão uma única palavra na mais certa lavra de ser: não.
No Corcovado, côncavo e eterno, o esquecer do sol sobrevoa nas nuvens plúmbeas e voláteis. Logo tudo pode virar tempestade sem saudade. Maldade? Esta fica para o fórceps que traz à vida o universo do verso loquaz e choro de orelhão a saudar a vida que se renova mordaz. Aqui ou na insana realidade que tudo se torna depois, se entorna a fatalidade fetal de um ou outro dedilhar. Clamar o quê? A chuva prevista não cai... até você voltar.
Terminemos, pois. Façamo-nos então o sol de Ipanema. Sem dramas, sem saudades da trema, sem sargaço que a poluição mata antes de vingar. A garota? Essa, às centenas, desfila com o corpo sarado, a bunda arrebitada, os seios siliconados, a boca esculpida com injeções mil. Na rua logo perto do mar, na esquina Vinicius e Tom, um sonhador prescreve a si mesmo uma dose de reviver...
sábado, 7 de dezembro de 2024
Entre dois iguais e Caetano
Por Ronaldo Faria
-- Claro que lembro.
-- E isso ficou gravado tanto tempo na sua memória?
-- Ficou. Parte como algo a se esquecer e outra parte a aquiescer, como se estivesse pra sempre nas cenas de amor e paixão entre dois iguais.
-- Como assim?
-- Como algo que era um mundo à parte, apartado do medo e da dor da realidade. Algo de infância renascida e que guarda raízes indeléveis até hoje.
-- Sei. Coisa de mansidão estradeira, feita em dias de viagem e paragens de secura, mas com todas as cores possíveis. Saudade inefável, enfim.
-- É, quase. Um fim que nunca acabou. Se perdeu, se desfez, se reencontrou em sorriso de espera inglória após a morte e o desejo de revisitar um passado carcomido e enterrado.
-- Entendi. Triste, não?
-- Não sei. Como o corpo que ficou largado nos fundos da cova e nunca mais será revisitado, tal reencontro de lembranças foi sepultado.
A conversa, convexa e incongruente, chafurdada em recordações primatas e primárias, se esvai sem razão de aglutinar. Na distância de longas léguas, milhares de quilômetros e mares sem conta, a voz de história histriônica, lacônica, tragicômica. Em portais, móveis que se fecham e se abrem, portas com ferrolhos e ferrugem, sentenças proscritas e escritas, dicotômicas, atônitas, atômicas se explodissem além da memória. Senão, apenas cifrão esquecido nas contas da vida ou cifras da canção nunca escrita, na desdita inaudita que só o luar que iluminou gente e animais sentenciou em si.
quinta-feira, 5 de dezembro de 2024
Piramboca da parafuseta e Renato Braz
Por Ronaldo Faria
Logo ali, perto do sono esperto que perpetua a imaginação profícua, alguém pensa que o amor sobrevive e resiste solerte e inerte no coração que se prepara para parar. Na aurora que seria altaneira anos atrás, um pássaro voa nos raros raios que sobremaneira se interpõem. No acordar de acordes surdos surgem canções. Imensidões rarefeitas e afeitas ao tardar de cada um. Na viola que viola o âmago do coração que surge em unção, a gratidão de ao menos saber soletrar um abecedário tão pouco proletário senão. Na noite, noir, a torre infiel a vazar no céu surge anêmica e cruel a fugir no trenó que foi roubado de Papai Noel. Daqui, com Silmar a ultimar final feliz, o infausto brinquedo de cada dança como fosse criança à espera de um final, enfim.
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
Adeus samba, até 2025
Por Ronaldo Faria
domingo, 1 de dezembro de 2024
George Benson, no tempo do jazz
Por Edmilson Siqueira
sexta-feira, 29 de novembro de 2024
Manchetando com Celso Fonseca
Por Ronaldo Faria
José está perdido no infindo infinito de onde ninguém chega ou sai. Acabara de levar uma dedada que lhe disse que um câncer talvez inexista. Felicidade? Só os próximos exames irão confirmar. Mas a praia, cheia de areia e ondas, brisas e coxas e peitos ao vento, está logo ali. E o sol brilha amarelo e eterno no céu. Quando a Terra acabar, por conta e documento sem alento dos homens, ele ainda estará ali a rir da imbecilidade de seres ditos humanos. Tivesse sido os outros animais, irracionais, ou a própria natureza a comandarem a peça teatral, tudo estaria igual como a milênios.
-- E aí, José, vai a saideira?
Derradeira? Claro que não! Que venham muitas mais. Ele mal havia começado sua estrada estradeira. Sua ida e loucura mal começaram a trilhar letras e sílabas, frases e parágrafos, sentimentos ágrafos que não terminam nunca. Agora, solitário, lobo e cordeiro de si mesmo, o importante era crer que a vida pode ainda resistir um tempo, mesmo a esmo.
-- Viu o resultado do Botafogo ontem? Tenho dó de quem torce para um passado distante, tão equidistante como a Terra de Plutão.
-- É, botafoguense só se fode. Ou seja, é um brasileiro padrão.
No copo a cerveja teima em esquentar. Na cabeça as lembranças entram em torpor.
-- Se Garrincha estivesse vivo ele talvez chorasse de dor de ver o que restou...
-- Talvez. Mas quem não tem um choro guardado por alguma merda que no passado fez? Soubéssemos do futuro estaríamos assim no presente?
-- Manoel, traz mais umas tantas porque o Zé aloprou de vez!
O português obedece feliz e mete o dedo na comanda. Ao redor, em derredor e dor, o vento de ventilador de teto não lembra mais dos afetos de meio afeto que fez nas mesas abaixo.
-- Com certeza. De novo, renovado.
-- Beleza, mano. Então vamos para as entradeiras.
-- Claro. Que desçam e cheguem cada vez mais...
Cléber, carioca da gema, da Zona Norte, onde a cidade se formou e depois migrou para o mar, acreditava que viver o momento, fosse ele em alegria ou tormento na mesa de bar, já valia ter visto as horas parcas correrem em 24 num insano respirar. Na praia, aprisionada nos corpos morenos e efêmeros, libidinosos e fogosos, tantos uns e tantas outras viajavam no mundo etéreo que o verão dá. Na areia quente e requentada na paródia que é viver, a viagem na derrocada letal.
-- E aí, Cléber, como está Marilena? Gostosa e peituda como sempre?
-- Não sei mais. Aliás, da última vez que a vi estava meio caída. Como dizia a propaganda: o tempo passa, o tempo voa.
-- Verdade. E é cruel. Chega rápido. E corrói tudo sem pedir permissão. De repente, estamos nós a desatarmos nós que nenhum de nós achou que tinha feito.
-- É. E são nós de marinheiro, que nem que já foi escoteiro sabe desatar.
No céu, devagar surge o luar. A brisa muda de odor, o mundo antevê outra cor. A luz que se vê é do Arpoador.
-- Mas tudo vale, não é?
-- Se a alma não for pequena, sim. Como disse o poeta. Mas e se não houver alma? Pra quê fingir que há um depois?
-- Moços, querem um amendoim? – a voz do garoto quase roto, retinto, soa como destino que pede para toda conversa desconversar.
-- Não, obrigado. Mas boa sorte pra você.
-- Porra, Gilberto, deixa de ser mão-de-vaca e dá cinco contos pro moleque!
-- Tá bom, deixa um aí!
-- Obrigado, doutor. Boa biritagem pra vocês! – responde o menino que sai a correr de mesa em mesa: “Quer um amendoim?”
Na rua, rotunda e moribunda, os carros passam viajandeiros. Os ônibus, atolados de pessoas cansadas e arfadas depois de mais um dia de trabalho árduo, parecem apenas brotar das esquinas em sinas sinuosas. O mundo é foda, parceiro.
-- Que bom que o mundo ainda existe, não é?
-- Para alguns, para alguns...
-- E o que é ser lânguido?
No meio desse papo louco de botequim, mais um dia estranho...
quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Papo de dois viventes do século há muito passado
Por Ronaldo Faria
terça-feira, 26 de novembro de 2024
O melhor de Nina Simone
Com os Paralamas do Sucesso e a porra de uns óculos que não dão pra ver a tela direito
Por Ronaldo Faria Óculos trocado porque o outro estava embaçado. Na caça da catraca de continuar a viver ou da contradança do crer vai ag...

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